Alcest e a celebração ao Blackgaze com “Les Chants De L’aurore"




Por João Pedro Peralta

No dia 21 de junho de 2024 saiu o aguardado “Les Chants de L’Aurore”, o sétimo álbum do Alcest.

Desde a sua estreia em 2005, o projeto de Neige percorreu diversas vertentes. Contando com a abordagem sombria do black metal de “Ecailles de Lune” (2010), passando pelo dream pop e o shoegaze de “Shelter” (2014) e desembocando nos riffs diretos e no flerte com o progressivo em “Spiritual Instinct” (2019), a banda nunca se prendeu a uma caixinha criativa. Tanto que o Alcest é conhecido por encabeçar o blackgaze, vertente que mesclada com o post-black foi capaz de repaginar o black metal e trazer uma nova geração de fãs do gênero.

Dito isso, “Les Chants de l’Aurore” surge como uma ode ao gênero que Neige concebeu em meio aos seus sonhos com “Le Secret-” (EP de 2005) e“Souvenirs d’um autre monde” (2007). De pronto, é possível notar a clara remontada ao tom inocente, alegre e nostálgico do álbum de estreia do projeto francês. 

“Les Chants de l’Aurore” não soa como uma nova mudança de direcionamento criativo e muito menos tenta reinventar um gênero. Pelo contrário, ao longo de seus 43 minutos, o álbum chega como um afago no coração de quem acompanha a cena indie e metal na última década. No aspecto sonoro e temático, a banda carrega como um legado toda a riqueza de elementos de sua trajetória. 

É notável a opção de trazer os vocais de Neige para o primeiro plano, fugindo da abordagem etérea da mixagem dos demais álbuns da banda e explorando passagens vocais graves. Enquanto isso, a bateria de Winterhalter segue a abordagem dinâmica e quase progressiva dos últimos álbuns. O mesmo vale para a guitarra, que cada vez mais explora riffs quebrados em meio à “parede sonora” do shoegaze. Quanto à mixagem das guitarras, a produção optou por uma estética mais limpa, embora a sonoridade suja e dissonante da fase inicial fizesse mais sentido dentro da proposta do disco.

Em “Komorebi”, é resgatada a influência da cultura oriental explorada em “Kodama” (2016) e remonta àquele tom nostálgico dos primórdios da banda. Já “L’Envol”, a primeira faixa divulgada pela banda, é um épico que traz guturais, riffs arrastados, coros e uma amalgama da sonoridade do Alcest. A faixa mais longa do álbum, “Améthyste”, conta com o destaque para seus belos e pesados riffs e pela palhetada alternada. Enquanto a guitarra lembra “Ecailles de Lune”, as viradas e o dinamismo da bateria se relacionam ao último álbum da banda.

Flamme Jumelle foi o segundo single da obra e utiliza a atmosfera radiante que permeia o álbum para flertar com pequenas inserções do dream pop de Shelter. Caminhando para a parte final do disco, Reminiscence é, possivelmente, a faixa mais emotiva do álbum. Regida por piano e orquestrações graves, puxa a simplicidade dos conhecidos coros de Neige em primeiro plano.

“L’Enfant de La Lune” já começa com blast beats e riffs frenéticos. O instrumental enérgico contrasta com as suaves passagens vocais. O encerramento com a acústica “L’Adieu” dá destaque à voz de Neige e vem em tom nostálgico e contemplativo que sintetiza com maestria Les Chants de L’Aurore. 

Portanto, Les Chants de L’Aurore marca uma fase madura de um projeto que já se reinventou diversas vezes. O sétimo álbum de estúdio da banda francesa é carregado, acima de tudo, pelo sentimento de celebração e alegria. Dessa vez, o Alcest não tenta criar um novo gênero, pois se contenta em contemplar a riqueza, sutileza e impacto de sua obra.

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